A primeira vez que ouvi falar da ayahuasca, confesso que senti um certo receio. Um chá que provoca visões e leva a estados alterados de consciência não era exatamente o que eu imaginava viver. Mas ao mesmo tempo, havia um chamado sutil, como se algo dentro de mim soubesse que esse encontro seria inevitável — e profundamente transformador.
Ao longo da minha caminhada espiritual, já havia experimentado diferentes caminhos: meditação, reiki, rituais de Umbanda, contato com a natureza, práticas xamânicas. Ainda assim, nada havia me tocado com tanta profundidade quanto essa medicina da floresta. Hoje, compartilho minha experiência com a ayahuasca e como ela me ensinou a enxergar o mundo com outros olhos.
O Chamado da Floresta
Muitos que chegam até a ayahuasca não o fazem por curiosidade, mas por necessidade. No meu caso, foi um momento de confusão emocional, vazio existencial e muitas perguntas sem respostas. A sensação de estar desconectada da essência, da Terra, do Divino, me consumia silenciosamente.
O convite para participar de uma cerimônia veio de uma amiga próxima, alguém que eu confiava. O local seria simples, no interior, guiado por um facilitador com raízes no xamanismo amazônico. Me preparei com jejum alimentar, silêncio interior e abertura de coração — mesmo sem saber exatamente o que esperar.
A Experiência com a Medicina
1. O Encontro com o Eu Interior
Logo após ingerir o chá, uma sensação de expansão começou a se instalar. Aos poucos, as fronteiras do corpo físico se dissolviam, e fui mergulhando num espaço profundo de consciência. Foi ali que encontrei — ou fui encontrada — por partes de mim que eu havia escondido por anos.
Memórias de infância esquecidas, dores não processadas, mágoas reprimidas vieram à tona. Mas, ao contrário do que imaginei, não era um sofrimento vazio: era um convite à cura.
2. A Presença dos Espíritos da Floresta
Durante a jornada, senti nitidamente a presença de entidades da floresta. Espíritos antigos, sábios, que me envolviam com firmeza e carinho. Eram como professores, apontando o que precisava ser transformado e oferecendo proteção. A sensação de não estar sozinha era tão real quanto qualquer conversa no mundo físico.
Esses guias não falavam com palavras, mas com símbolos, visões, sentimentos. Me mostraram que tudo está interligado: o corpo, a mente, a alma, a natureza e o cosmos.
Transformações Após a Cerimônia
Reconexão com o Sagrado
Uma das maiores mudanças foi a percepção da vida como algo sagrado. Cada árvore, animal, ser humano e até mesmo os desafios passaram a ser vistos como parte de um grande plano de evolução. Aprendi a escutar mais, julgar menos, sentir mais profundamente.
Percepção Ampliada da Realidade
A ayahuasca rompeu a ilusão de que a realidade se resume ao que os olhos enxergam. Há mundos sutis interligados ao nosso, onde vivem espíritos, arquétipos, memórias coletivas. A consciência, quando expandida, se torna capaz de navegar por essas dimensões e compreender com o coração o que a mente não alcança.
A Cura Como Um Processo
Não existe milagre instantâneo. O que a ayahuasca fez foi abrir portas internas para que eu enxergasse com clareza o que precisava ser curado. Depois da cerimônia, o trabalho continuou: com meditação, autoconhecimento, rituais de limpeza, cuidado com o corpo e a alma.
Dicas para Quem Está Começando
Se você sente o chamado da ayahuasca, siga alguns passos com consciência e respeito:
1. Escolha um lugar seguro: Procure por facilitadores experientes e sérios, com boas referências. A energia do local e das pessoas influencia diretamente a experiência.
2. Prepare-se física e emocionalmente: Evite alimentos pesados, álcool, medicamentos e atividades intensas nos dias que antecedem. Mantenha a mente em estado de entrega e oração.
3. Não busque visões, busque verdade: Cada jornada é única. Às vezes há visões, outras vezes há silêncio. Confie no que vier — ou no que não vier. A medicina sabe o que fazer.
4. Integre a experiência no dia a dia: Após a cerimônia, escreva, reflita, converse com pessoas da mesma caminhada. Não guarde tudo para si. A integração é onde a cura realmente acontece.
Uma Nova Forma de Viver
Depois de minha primeira cerimônia com a ayahuasca, jamais fui a mesma. Não se trata de uma mudança exterior, mas de uma revolução interna. Aprendi a escutar a sabedoria do silêncio, a confiar no invisível e a honrar minha própria caminhada.
O mundo continua com seus altos e baixos, mas meu olhar sobre ele mudou. Descobri que há uma força viva em cada folha, em cada vento, em cada pulsar do coração. E que os espíritos da floresta estão sempre por perto, esperando que a gente lembre que somos parte deles — e eles, parte de nós.
A ayahuasca não é um fim, mas um portal. Quem cruza esse portal com humildade e entrega, volta diferente. Volta mais inteiro. Volta mais verdadeiro.